terça-feira, 21 de abril de 2015

Referências In-pertinencia Cast 2



Bom dia e boa noite, impertinentes!
Esse foi um cast e tanto, hein? Muito denso e com muitas referências....
Essa postagem é para  condensar as referências todas em um único lugar.

Então vamos lá: A Teoria dos Ídolos de Francis Bacon está muito bem resumida aqui
Esse é o link para o trabalho de Federico Laudisa sobre ciência e naturalismo: É realmente a ciência o que o Naturalismo diz que é?
(em word, em inglês)

Aqui o trabalho de Bertrand Russel "A filosofia entre a Religião e a Ciência"

Aqui você acessa o Artigo de Jonah Leher no New Yorker, The Truth wears off.

Aqui um trecho das declarações de Werner Heisenberg sobre o cientificismo e as limitações do " método científico"

Fechamos com uma resenha para você conhecer Soren Kierkegaard.

Fiquem agora com Goethe, no trecho de sua obra "Fausto", para você que talvez.não esteja acostumado com o português patrício. Para fazer o download da obra clique aqui.


Ao cabo de escrutar co’o mais ansioso estudo
filosofia, e foro, e medicina, e tudo
até a teologia... encontro-me qual dantes;
em nada me risquei do rol dos ignorantes.
Mestre em artes me chamo; inculco-me Doutor;
e em dez anos vai já que, intrépido impostor,
aí trago em roda viva um bando de crendeiros,
meus alunos... de nada, e ignaros verdadeiros.
O que só liquidei depois de tanta lida,
foi que a humana inciência é lei nunca infringida.
Que frenesi! Sei mais, sei mais, isso é verdade,
do que toda essa récua inchada de vaidade:
lentes e bachareis, padres e escrevedores.
Já me não fazem mossa escrúpulos, terrores
de diabos e inferno, atribulados sonhos
e martírio sem fim dos ânimos bisonhos.

Mas, com te suplantar, fatal credulidade,
que bens reais lucrei? gozo eu felicidade?
Ah! nem a de iludir-me e crer-me sábio. Sei
que finjo espalhar luz, e nunca a espalharei
que dos maus faça bons, ou torne os bons melhores;
antes faço os bons maus, e os maus inda piores.
Lucro, sequer, eu próprio? Ambiciono opulência,
e vivo pobre, quase à beira da indigência.
Cobiço distinguir-me, enobrecer-me, e vou-me
co’a vil plebe confuso, à espera em vão de um nome.
E chama-se isto vida! Os próprios cães da rua
não quereriam dar em troco desta a sua.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

In-PertinenciaCast


Bom Dia e Boa Noite!

Está no ar o novíssimo In-pertinencia Cast falando um pouco sobre as possibilidades do demônio de nos dar felicidade.... ops... das possibilidades da ciência de nos dar a resposta pra vida, o universo e tudo o mais.
Vamos junto com Fausto estudar as bases da ciência e, com Marlin e Dory, sair em uma busca desenfreada pela verdade.

Vamos muito bem acompanhados de Richard Wagner, The Scorpions, Queen, Charles da Flauta e Robbie Willians.


sábado, 11 de abril de 2015

Viva a Impertinência



E até que enfim saiu o primeiro episódio do In-pertinência cast!
nesse primeiro áudio falamos de Deus, do diabo e da Dilma!
Vale a pena ouvir  descobrir que com grandes poderes vem grandes responsabilidades, e que você tem o dever de usar uma ferramenta que Deus, ou Darwin te deram!

Seja bem vindo e pode entrar que a casa é sua!



quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O Problema do Sofrimento - Parte IV

Seguindo a onda do Biblecast, o Isaque lançou um ótimo Podcast, o Cronicast #27, que se foca na questão do sofrimento e sua percepção pela igreja e pelos cristãos. O diretor do programa se foca nos paradoxos apresentados por Paulo a respeito de sua luta aqui, que você pode acompanhar na segunda carta de Paulo aos Coríntios, no Capítulo 6, que transcrevo a seguir:

"Não damos motivo de escândalo a ninguém, em circunstância alguma, para que o nosso ministério não caia em descrédito. Pelo contrário, como servos de Deus, recomendamo-nos de todas as formas: em muita perseverança; em sofrimentos, privações e tristezas; em açoites, prisões e tumultos; em trabalhos árduos, noites sem dormir e jejuns; em pureza, conhecimento, paciência e bondade; no Espírito Santo e no amor sincero; na palavra da verdade e no poder de Deus; com as armas da justiça, quer de ataque, quer de defesa; por honra e por desonra; por difamação e por boa fama; tidos por enganadores, sendo verdadeiros; como desconhecidos, apesar de bem conhecidos; como morrendo, mas eis que vivemos; espancados, mas não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo." 2 Coríntios 6:3-10

Vou mais uma vez sugerir a você que ouça o programa e passeie pelo site que tem muito material de qualidade.

Quero reiterar que o programa é excelente e muito do que foi dito até aqui, talvez um dos cernes da minhas suposições sobre o sofrimento esteja exposto aos 14 minutos e 10 segundos, onde ouvimos sobre "um dos maiores paradoxos da vida cristã: sofrer, lamentar, mas ainda assim se alegrar em Cristo".

De certa forma, isso reafirma o que falamos no post anterior, sobre a diferença entre lamentar e murmurar. As lágrimas estão sempre presentes em nossa experiência nesta terra, mas há um sorriso sempre pronto, pois apesar de nossos sofrimentos serem grandes, há uma esperança maior ainda. A carta aos Coríntios indica que nem mesmo a iminência da morte é maior que a esperança naquele que é a ressurreição e a vida. No capítulo anterior, Paulo, comparando o corpo a uma casa, afirma: "Sabemos que, se for destruída a temporária habitação terrena em que vivemos, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna no céu, não construída por mãos humanas. 2 Coríntios 5:1"

Em outras palavras, Paulo afirma que, mesmo que nós percamos esse corpo - através da morte - Deus nos dá a garantia de outro corpo, melhor que esse, no céu.

Falamos disso na parte anterior, a respeito da esperança celestial.

Um conceito que deveria ser pregado nas portas das igrejas, como Lutero fez há 500 anos, é o de que, ao pregarmos o Evangelho da Prosperidade, estamos enganando as pessoas, as trazendo para o caminho do evangelho pelos motivos errados e prometendo coisas que a Bíblia nunca nos prometeu!

Após as belas conclusões extraídas do texto de Paulo aos Coríntios, O narrados analisa o texto de Paulo aos Filipenses:
"Se alguém pensa que tem razões para confiar na carne, eu ainda mais:circuncidado no oitavo dia de vida, pertencente ao povo de Israel, à tribo de Benjamim, verdadeiro hebreu; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo.
Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo"  Filipenses 3:4-8

Desse texto, o cronicast extrai três pontos:
1. A preparação de Paulo para o sofrimento através da inversão de seus valores;
2. A experiência de sua dor e sofrimento como custo de sua obediência a Cristo e
3. A meta de Paulo, em tudo isso, é ganhar a Cristo, estar mais em comunhão com Ele.

Esses pontos são muito bem trabalhados e, segundo esse humilde blogger, não há nenhum equívoco. O Programa apresenta mensagens de esperança e, mais uma vez, apresenta a coerência dos textos apontando para um sentido que não  é oculto na Bíblia: "Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. Mateus 10:37"

A vacina que eu gostaria de deixar aqui é, talvez, contra algum mal entendido que possa surgir, principalmente, através da incompreensão do terceiro ponto colocado pelo Isaque:

O capítulo de Filipenses pode aparentar estar incentivando o abandono voluntário de tudo (pais família, casa, emprego, etc - tudo o que, segundo bem exposto pelo Isaque, é tido como perda.
Como o narrador bem explica, devemos estar preparados para perder. Não se trata de sair por aí abandonando tudo a esmo "para ganhar a Cristo".

Nesse momento, é importante se ater ao significado que o próprio Paulo dá, no contexto da carta aos Filipenses: "na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo, E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé" Filipenses 3:8-9.
Ganhar a Cristo aqui é submeter-se à sua justiça, não por obras (inclusive de abnegação). Não por obras da Lei, nem por obras da carne.
Aliás, esse é exatamente o termo que inicia esse discurso de Paulo: "Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne." Filipenses 3:3

Talvez o sacrifício de Isaque (não o autor do cronicast) seja o melhor exemplo disso. Isaque era o filho da promessa, dado por Deus a Abraão, mas este não deixou de oferecer esse Filho em sacrifício a Deus (perder) pois tinha fé e sabia que, de qualquer modo, Deus faria o que era melhor.
Outra pessoa que esteve diante de um altar de sacrifício diante de Deus com sua descendência foi Jefté. Pra quem não conhece a história sórdida, está em Juízes 11: 31-40. Resumo: o cara matou a própria filha.

Não estamos aqui falando de penitência. nem de salvação pelo sofrimento.

Meu único ponto de discordância com o Podcaster, a quem admiro muito, é o texto que apresenta o podcast:
"É lógico afirmar biblicamente que quanto mais nós nos empenhamos em ser o sal da terra e a luz do mundo, buscando alcançar os inalcançados deste mundo, lutando contra as forças da escuridão, se desvencilhando das correntes do pecado e da escravidão, mais nós sofreremos. E é por isso que devemos estar preparados e evitar ficar buscando na Bíblia versos que deem suporte ao nosso comportamento egoísta e mimado."

Ao estabelecer uma relação "quanto mais nos empenhamos [...], mais sofreremos" , o autor cria, propositadamente ou não, um termômetro do empenho em ser o sal da terra, e isso implica, em última instância, numa teologia da automutilação. Kazoh Kitamori, em sua "Teologia da dor de Deus" afirma que:

"O mais efetivo método para destruir os pecados é constantemente repousar o sofrimento de Deus sobre nós mesmos. O sofrimento de Deus é arraigado em Seu amor e produz poder para santificação. O amor de Deus produz a santificação ética em harmonia com a ordem do Espírito Santo" e "O sofrimento do homem também simboliza o sofrimento de Deus, por isso, a ponte de ligação entre Deus e o homem é o sofrimento."

Há um possível equívoco aqui: encontrar Deus em meio ao sofrimento é diferente de buscar o sofrimento para encontrar a Deus. As declarações de Kitamori (este blogueiro carece de estudar mais esse autor), parecem indicar a segunda hipótese. Creio não ser esta a intenção do autor do cronicast.

Outro ponto complicado se encontra na banalização do sofrimento presente nessa chamada, ao considerar o sofredor "mimado" e na sugestão de "não ficar buscando na Bíblia versos que deem suporte [...]"
Ora, podemos, então, dizer que o apresentador buscou na Bíblia versos que dessem suporte à sua visão de mundo? E se o ouvinte esbarrar num verso que contrarie sua visão sobre o assunto, deve ignorá-la?

Concepções sobre o sofrimento são muito importantes. Talvez não consideremos isso na abundância, talvez não tenhamos sofrido algo que realmente nos fizesse estremecer, mas, como relatou o narrador do cronicast, ter uma concepção errada sobre isso pode nos fazer abandonar a fé no momento da angústia, mas é importante entender também que Deus se demonstra no momento da bonança.

Em seu livro "Estações da vida", o pastor e Ph.D. Kleber O. Gonçalves identifica as diferentes conjunturas pelas quais passamos com estações do ano, sendo o inverno o sofrimento intenso e o verão a situação de fartura, deixando claro que, seja qual for sua estação, Deus quer estar ao seu lado.
Essa é a mensagem do vídeo abaixo, seja através da gratidão pelas bênçãos, ou através da certeza da proteção divina, seja na riqueza ou na pobreza, na vida ou na morte. Pois: "Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor. Romanos 14:8". 


terça-feira, 25 de novembro de 2014

O Problema do Sofrimento - Parte III



Até agora vimos como o sofrimento é algo pelo que passaremos, mas nunca sozinhos, "Pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas enfermidades, mas que tem sido tentado em todas as coisas à nossa semelhança, mas sem pecado." Hebreus 4:15.
Vimos que o Salmo 88, como um salmo messiânico, mostra os sofrimentos do Messias, que são muito superiores aos nossos. Não precisaremos passar pela separação e abandono que Cristo passou. Vimos, também, que Deus nos dá conforto e esperança durante a tribulação.

Vamos aos últimos pontos extraídos do biblecast:

Quinto Ponto; a vida humana não é nada em comparação com a eternidade, ou seja, os sofrimentos vividos aqui são nada em comparação com a glória porvir.
Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês". Mateus 5:11-12

Corte um milímetro de uma corda de um quilômetro, qual a diferença que a corda sofreu? muito menor é a nossa vida em relação à eternidade. Com esse argumento, os pastores reafirmam um conceito repetido diversas vezes na bíblia, o da recompensa celestial. Todo sofrimento que passarmos aqui é nada em relação à gória futura, ao fato de que viveremos para sempre em um lugar onde "não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor" Apocalipse 21:4.

Porém, nós só conhecemos esses nossos dias, por isso, como diz o texto que encima essa postagem, Cristo compreende nossa realidade, pois a viveu, o que nos leva ao sexto ponto:

Os sofrimentos de Cristo foram muito maiores do que os nossos, motivo pelo qual nós "não podemos dizer a Deus que estamos sofrendo demais"
O fato dos sofrimentos de Cristo terem sido muito superiores aos nossos confirmam que não precisamos passar pelo que Jesus passou, ou seja, chorar longe do Pai, estar separado de Deus.
Nesse ponto, é importante ressaltar que dizer que Deus está ao nosso lado mas não se demonstra é o mesmo que dizer que Ele não está. Cristo não sentiu a presença de Deus na cruz, ainda que Deus estivesse ali com ele.
Agora, há uma diferença muito importante entre lamentar e murmurar.
O livro de Jó contém uma série de lamentações do personagem, há inúmeros salmos, como o 88, em que o salmista se queixa, ora do progresso dos ímpios, ora da desgraça iminente que ameaça sua vida. O próprio Paulo, em sua segunda carta aos coríntios nos conta que: "Irmãos, não queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofremos na província da Ásia, as quais foram muito além da nossa capacidade de suportar, a ponto de perdermos a esperança da própria vida. 2 Coríntios 1:8".
Jesus nos diz que "Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados. Mateus 5:4".

O problema está em murmurar, ou reclamar, desconfiar de Deus.
Enquanto o lamento humilde nos aproxima de Deus, a murmuração nos afasta dEle, inverte a relação de senhorio e nos faz julgar a Deus. Nesse sentido, não podemos mesmo dizer a Deus que estamos sofrendo demais. Não porque Cristo sofreu mais, mas porque Ele tem cuidado de nós e fará o que é melhor para nós. Esse cuidado se revela no consolo que recebemos da bíblia, nos eventos, aparentemente comuns, que amenizam nosso sofrimento ou nos ensinam a passar por ele, no apoio recebido das outras pessoas quando estamos mal.
Certamente você já viveu isso, já recebeu uma "boa palavra dita a seu tempo". Esses são milagres de Deus, brisas suaves de seu supremo cuidado.

Isso nos leva ao útimo ponto:

Assim como Cristo sofreu por nós, nós vamos e devemos sofrer pelos outros, pois viver pelos outros é sofrer.
Amar é dar, é se entregar e isso, com certeza, vai nos fazer dar muitas caneladas por aí. Nesse ponto, sou completamente concordante com os Pastores e sugiro muito que você ouça o Biblecast #117. O paradigma de Cristo é viver segundo os passos dEle e, para isso, é necessário parar de pensar em si mesmo e viver pelos outros, entregar-se pelos outros e sofrer pelos outros.
Não estamos falando em largar tudo e sair por aí como um eremita. Há o Apóstolo, enviado, mas também há o Presbítero, que fica. Ambos tem espaço na Igreja e são muito importantes.
O chamado de Cristo, porém, é para que estejamos prontos a deixar tudo, a buscar, primeiro, o Reino de Deus, sendo todas as outras coisas secundárias.

Pois bem, essas foram as considerações a respeito  do que Eu entendi do Biblecast #118. O programa não é nenhum tratado teológico e tem uma linguagem bem descontraída e divertida (apesar do tema sombrio).

Logo mais faço algumas considerações sobre o mesmo tema, que apareceu no Cristãos Cansados, no Cronicast #27.

O Problema do Sofrimento - Parte II



A questão do sofrimento é uma dos pontos centrais em todas as religiões. É o sofrimento que dá a ideia de evolução para o espiritismo e de Karma para as religiões orientais. É o sofrimento da nação de Israel que evidencia sua culpa diante de Deus e motiva judeus a chorarem no Muro das Lamentações.

No cristianismo, ótica pela qual analisaremos o sofrimento, há dois ótimos livros do autor C. S. Lewis sobre o tema: "O problema do sofrimento" e "Anatomia de uma dor", extremamente recomendados.

Eu, porém, como leigo, me atrevi a escrever essa série após a provocação dos Pastores Diego e Júnior, do Biblecast, e do Isaque, do Cristãos Cansados. Na primeira parte levantei os principais pontos colocados pelos pastores em seu programa, que passo a analisar a seguir:

Primeiro Ponto: reconhecer (aceitar) o sofrimento:
"No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo" (João 16:33).

Enquanto a teologia da prosperidade repudia o sofrimento, há um perigo evidente no outro extremo, o de que é o sofrimento o nosso caminho para os céus. Aos 27 minutos os oradores do Biblecast dizem que é necessário aceitar, para o bem, inclusive, do cristianismo, que, às vezes, o pior vai acontecer.

Tal posição é corretíssima e a Bíblia está repleta de exemplos disso. as mortes de João Batista, Estêvão e Tiago, nos mostram essa realidade. É importante deixar claro que a aceitação do sofrimento é uma necessidade para os que pretendem seguir a Deus. Com razão, os pastores afirmam diversas vezes que querer que todas as nossas ações tenham resultados aparentemente benéficos é um erro.

Para que possamos reconhecer e aceitar o sofrimento, precisamos entender a razão da existência de todo o mal. dor e sofrimento.

C.S. Lewis trata disso de maneira extensa em o Problema do sofrimento. O mal é causado pelas nossas escolhas, pelo nosso livre-arbítrio. "Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Gálatas 6:7". Nossas ações tem consequências, e não há como escapar delas. Num segundo nível, as ações dos outros tem consequências sobre nós - o que é alheio à nossa vontade, mas, uma vez que Deus permite a liberdade de todos os seres, não vai impedir que alguém, deliberadamente ou não, nos faça mal. é a regra dEle. Um terceiro nível tem a ver com o Grande Conflito em que nos metemos. Sofremos porque o mundo inteiro sofre. "Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. Apocalipse 12:12."

Por outro lado, Deus não se furta de intervir na realidade, se assim fosse, admitiríamos o Deísmo - Deus fez o relógio (mundo), deu corda nele e se mandou, como quem dissesse: Volto mais tarde, Não Perturbe!

Os pastores admitem a ação de Deus neste mundo durante todo o programa, citando respostas a orações e outras intervenções divinas. As palavras de ouro aqui são os advérbios de intensidade, mas vamos à isso no terceiro ponto.

O problema aqui está com a ideia de que Deus não responde.

Embora as coisas realmente possam piorar, Deus está sempre a nos responder. Há dois casos emblemáticos sobre o silêncio de Deus ante ao desespero humano. O de Saul é o mais clássico. Em I Samuel 28 ele busca revelação divina para uma batalha,"E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas. 1 Samuel 28:6".

A Angústia de Saul e o silêncio de Deus são descritos da seguinte forma pela escritora Ellen White:

"Poderia ele esperar ser atendido por Deus, quando interrompera os condutos de comunicação que o Céu determinara? Afastara pelo seu pecado o Espírito da graça, e poderia ser atendido por sonhos e revelações do Senhor? Saul não se voltou a Deus com humildade e arrependimento. Não era o perdão do pecado e a reconciliação com Deus, o que ele buscava, mas o livramento de seus adversários. Pela sua obstinação e rebelião, separara-se de Deus. Não poderia voltar a não ser por meio do arrependimento e contrição; mas o orgulhoso rei, em sua angústia e desespero, resolveu buscar auxílio de outra fonte."
Tal colocação faz todo sentido à luz da promessa de Deus de que "E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração. Jeremias 29:13". Uma vez que é o desespero, sem arrependimento, que movia o coração de Saul, Deus não lhe falou. Ou seja, pelo exemplo de Saul, se Deus não lhe responde, você o está buscando pelo motivo errado ou da maneira errada!

É importante ressaltar aqui que com "responder" não estou dizendo "atender". E quando digo "responder", não estou dizendo "responder agora", Deus responde "no tempo oportuno".

Ao contrário do que pode parecer após ouvir o Biblecast, Deus nos incentiva a buscá-lo no momento de angústia: Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno. Hebreus 4:16.
O outro exemplo do silêncio divino é o de Jesus, citado no Biblecast. O problema é que, no momento mais sombrio antes da cruz, quando Jesus pede para que Deus faça passar dEle o cálice da ira, há a presença de nada menos que Moisés e Elias! E no momento em que Jesus exclama pelo abandono do Pai, assim descreve E.G. White:

"Ele, que fora Um com Deus, sentiu na alma a terrível separação que o pecado causa entre Deus e o homem. Foi o que Lhe arrancou dos lábios o brado de angústia: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?"

Ora, tal circunstância está em perfeita consonância com Isaías 59:2 , 2 Coríntios 5:21 e 2 Coríntios 5:19, ou seja, Jesus, por carregar os pecados de todos (ou, se tornar pecado, como diz Paulo) experimentou a completa separação de Deus, não podendo sentí-lo em sua morte.

Eu e você não precisamos carregar sequer os nossos pecados. Nada pode separar-nos de Deus, ou melhor, nada deixa Deus inacessível, ou então, como diz Paulo: Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. Romanos 8:38-39.

Segundo Ponto: Deus não anestesia a realidade (alivia o sofrimento):
"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus. Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo. 2 Coríntios 1:3-5"

Obviamente que Deus não anestesia nossas dores, porque as sentimos, mas o que o texto acima nos informa é que há consolo para nossos males. a palavra grega para isso é Paraklesis, traduzido como "conforto" na versão inglesa da bíblia. Ora, consolo, conforto, alívio querem dizer exatamente o que querem dizer: diminuição do sofrimento. Embora, no salmo 88, não vemos nenhum conforto ou consolo ao sofredor, Paulo deixa claro aos coríntios que Deus "nos consola em toda a nossa tribulação". Só para constar, Jesus, no evangelho de João, 14:16, diz: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre." O Consolador, nesse caso, é o Parakletos, o Espírito Santo que atua para nossa Paraklesis.

Embora a Bíblia nos diga que vamos passar pelo sofrimento, a mesma Bíblia diz que Deus intervém o que nos leva ao:

Terceiro Ponto: Toda vez que Deus interfere na realidade a nosso favor, Ele está dando um bônus, não é a realidade.
O jogador de futebol Fabrice Muamba ficou morto por 78 minutos após uma parada cardíaca durante uma partida pelo campeonato inglês. Algumas especulações foram levantadas e você pode conferí-las aqui, porém a extrema raridade e a falta de explicações convincentes para o ocorrido podem, muito bem, colocar esse fato na categoria de "milagres".

Compreendo a posição e a intenção dos pastores ao informar que os Milagres são incomuns, muito de vez em quando, e isso tem a ver com a compreensão equivocada, ou uso inadequado, da concepção de "milagre".

Antes, os pastores lançam uma dicotomia entre Milagre versus Realidade, talvez remetendo-se ao binômio: sobrenatural versus natural.

A primeira assertiva, a de que Deus, ao agir a nosso favor, está nos dando um bônus, se sustenta porque o Pai não nos deve nada. Não é Obrigação divina nos dar nada, ao contrário não haveria Graça e a relação de senhorio seria invertida, sendo nós que comandamos a Deus!

É verdade que a "confissão positiva" ou teologia da prosperidade leva muitos cristãos a "determinarem" coisas, achando que Deus tem o dever de seguir-lhes as ordens. Nada mais insano!!!

Deus realmente dá bônus, no sentido de que um bônus é um favor imerecido.

O problema aqui, mais uma vez, é com a intensidade e o reforço dos condutores do biblecast de que a intervenção divina é coisa rara.

Se toda intervenção divina pode ser chamada de milagre, então milagres estão ao nosso redor o tempo todo. Jesus nos diz que Deus alimenta as aves do céu e veste os lírios do campo, para dizer que o mesmo Pai nos dará o que necessitamos. Se negarmos que o que temos vem das mãos de Deus praticamos a ingratidão, admitimos que é o nosso esforço que nos mantém. Jogamos por terra toda a doutrina sobre fidelidade e desmentimos a Bíblia que diz que "Tudo vem de ti, e nós apenas te demos o que vem das tuas mãos." 1 Crônicas 29:14 NVI.

Mesmo milagres como o que salvou a vida de Muamba, que esteve morto, são comuns hoje em dia. Vá a um culto de oração e você verá.

A ênfase de que as ações de Deus são raras não se harmonizam com a imagem de um Deus que "faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos." Como dissemos antes, Deus não é o relojoeiro ausente e intervém a todo momento. Nossa prórpia existência já é um milagre.

Compreendemos que, muitas vezes, a ação de Deus a nosso favor não é aquela que nós queremos. Algumas vezes a ação de Deus a nosso favor ocorre como algo que não nos agrada e que gera sofrimento, e isso leva ao quarto ponto:

Deus conhece todas as coisas.
Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. Romanos 8:28
Como não vemos o plano todo, não sabemos as complexas redes de eventos que se desencadeiam e o efeito desses eventos sobre nós e sobre os outros. Isto é dizer que, às vezes, coisas ruins são permitidas para o nosso bem.

Ora, nunca é para o nosso bem estar separados de Deus, A Palavra de Deus nos ensina a ser cada dia mais dependentes. A afirmação dos pastores de que "Às vezes você vai pedir e Deus não vai te responder, e você vai se sentir como quem chora e a mãe não vê: Aprendeu?" não corresponde à verdade extraída das escrituras.

Jesus nos ensina a pedir e buscar sem cessar, tendo esperança de receber: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.Pois todo o que pede, recebe; o que busca, acha; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Mateus 7:7-8"; "Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora seja demorado em defendê-los? Lucas 18:7".

Obviamente que nem sempre o que julgamos bom é bom de acordo com a visão de Deus, mas a Bíblia não nos diz que Deus não irá responder "pois o que busca, encontra". Voltamos ao ponto 1.

Na parte 3 finalizo minhas considerações acerca do Biblecast. Até lá!

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O Problema do Sofrimento - Parte I



O propósito desta série de postagens é responder a alguns conceitos dos meus queridos Diego e Júnior, do Biblecast (não conhece? tá perdendo tempo, corre lá no www.confissoespastorais.com.br e OUVA!). Também apresenta algumas considerações sobre o que rolou no último Cronicast, o podcast do www.cristaoscansados.net, site fantástico do digníssimo Isaque.
O pano de fundo dessas discussões é a famigerada Teologia da Prosperidade, tese em que Deus premia seus fiéis servos com bens materiais e sucesso terreno. A razão da sua desgraça material, portanto, é a sua falta de fé, que o incapacita a receber as "boas dádivas" de Deus.
Essa visão pode ser resumida pela frase da cantora e modelo Maria da Graça Meneghel, de que "tudo o que eu quiser, o Cara lá de cima vai me dar". Para o Isaque e os Pastores que dirigem o Biblecast essa visão é anti-cristã, não tem respaldo bíblico e, como dizem os pastores, não seguem o paradigma de Cristo.
Concordamos. Você pode ver um pouco da história da teologia da prosperidade aqui.

O contrário da teologia da prosperidade é o que eu vou chamar aqui de "Teologia do Sofrimento", na verdade há que se falar em várias "Teologias do Sofrimento", ou seja, há vários pontos de vista teológicos em relação ao sofrimento. Podemos dizer até que a Teologia da prosperidade oferece sua própria teologia do sofrimento. Mas qual e a teologia do sofrimento presente nos áudios do Isaque e dos Pastores do Biblecast? As considerações abaixo são frutos de minha percepção sobre os programas, então, você pode ouví-los por si mesmo e voltar aqui depois.

Ao analisar o Salmo 88, Diego e Júnior tentam traçar uma teologia do sofrimento sob a ótica do que chamam de "Paradigma de Jesus", que explanam melhor no Biblecast #117. Esse paradigma impõe a morte do "eu" e uma vida de abnegação em prol do "outro". O Paradigma de Jesus, então, é seguir radicalmente seu exemplo, se entregando pelo outro, para a salvação do outro, assim como Cristo fez.
E o que o Salmo 88 tem a nos dizer sobre isso?
Primeiro, ele é um salmo messiânico, ou seja, trata da vida do Messias, colocando, de maneira profética, os sofrimentos e abandonos que Jesus passou aqui, com ênfase, dada pelos pastores, no clamor sem resposta que Ele eleva aos céus "Deus meu, por que me desamparaste"?

Você vai precisar chegar aos 27 minutos de programa para ouvir dos pastores que muitos não aceitam que, às vezes, as histórias dessa vida terminarão como termina o salmo 88, com um clamor irrespondido e sem final feliz.
Segundo os pastores, ao não aceitar que algumas histórias terminam assim, nós enfraquecemos o cristianismo, ao criar um cristianismo dependente de bênçãos.
Esse é o primeiro ponto que discutiremos aqui, antes, porém, vamos aos demais:

Admitindo que a vida é ruim e as coisas aqui são más, os pastores lançam o segundo ponto: o de que Deus não anestesia a realidade, quem faz isso é o Diabo. Explicam esse conceito ao dizer que os cristãos vão passar pelos sofrimentos deste mundo e analisam, no salmo 88, o fato de que Deus não agiu no caso do salmista. "A única coisa boa nesse capítulo é o verso 2, que diz que a oração chega a Deus. Mas a oração chegou a Deus e nada, o cara continua sofrendo".

Um terceiro ponto, colocado de forma cabal aos 33 minutos e 18 segundos do programa, é o de que "Toda vez que Deus interfere na realidade a nosso favor, Ele está dando um bônus, não é a realidade." Citam que a interferência de Deus em nosso favor é chamada de milagre, e que milagres são raros, citando o pequeno número de ressurreições (5 ou 6), ou ainda grandes milagres que são parcamente citados na Bíblia. Milagres são exceções, não são coisas corriqueiras (e mais ênfases na raridade dos milagres).

O quarto ponto gira em torno do conhecimento supremo de Deus, que o possibilita enxergar a realidade de modo completo, enquanto nós somos meras criaturas, pequenos e que não temos a visão de todas as relações, conexões e etc, que estão em jogo aqui em nossa vida. O sofrimento, então, tem um papel didático, pois nos ensina a viver nesse mundo e nos faz olhar para além desse mundo.

Pausa para a explicação dos 40 minutos: "Às vezes você vai pedir e Deus não vai te responder, e você vai se sentir como quem chora e a mãe não vê: Aprendeu?"

Quinto ponto: a vida humana não é nada em comparação com a eternidade, ou seja, os sofrimentos vividos aqui são nada em comparação com a glória porvir.

Sexto ponto: Os sofrimentos de Cristo foram muito maiores do que os nossos, motivo pelo qual nós "não podemos dizer a Deus que estamos sofrendo demais". Deus não ouviu a voz de seu próprio filho quando este implorou "passa de mim esse cálice".

Sétimo e último ponto: Assim como Cristo sofreu por nós, nós vamos e devemos sofrer pelos outros, pois viver pelos outros é sofrer.

Ainda há outras considerações, afinal trata-se de mais de uma hora de programa. uma ênfase ao final do programa é que Deus está ao nosso lado, outra é de que Deus nos chama para a pior realidade que existe, e que não há benefício próprio nesta terra em seguir o caminho da cruz. Enfim, sugiro que ouçam.
Na parte 2 vamos analisar os pontos levantados pelos pastores, para, a seguir, partirmos para as considerações do Isaque.