segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O Problema do Sofrimento - Parte I



O propósito desta série de postagens é responder a alguns conceitos dos meus queridos Diego e Júnior, do Biblecast (não conhece? tá perdendo tempo, corre lá no www.confissoespastorais.com.br e OUVA!). Também apresenta algumas considerações sobre o que rolou no último Cronicast, o podcast do www.cristaoscansados.net, site fantástico do digníssimo Isaque.
O pano de fundo dessas discussões é a famigerada Teologia da Prosperidade, tese em que Deus premia seus fiéis servos com bens materiais e sucesso terreno. A razão da sua desgraça material, portanto, é a sua falta de fé, que o incapacita a receber as "boas dádivas" de Deus.
Essa visão pode ser resumida pela frase da cantora e modelo Maria da Graça Meneghel, de que "tudo o que eu quiser, o Cara lá de cima vai me dar". Para o Isaque e os Pastores que dirigem o Biblecast essa visão é anti-cristã, não tem respaldo bíblico e, como dizem os pastores, não seguem o paradigma de Cristo.
Concordamos. Você pode ver um pouco da história da teologia da prosperidade aqui.

O contrário da teologia da prosperidade é o que eu vou chamar aqui de "Teologia do Sofrimento", na verdade há que se falar em várias "Teologias do Sofrimento", ou seja, há vários pontos de vista teológicos em relação ao sofrimento. Podemos dizer até que a Teologia da prosperidade oferece sua própria teologia do sofrimento. Mas qual e a teologia do sofrimento presente nos áudios do Isaque e dos Pastores do Biblecast? As considerações abaixo são frutos de minha percepção sobre os programas, então, você pode ouví-los por si mesmo e voltar aqui depois.

Ao analisar o Salmo 88, Diego e Júnior tentam traçar uma teologia do sofrimento sob a ótica do que chamam de "Paradigma de Jesus", que explanam melhor no Biblecast #117. Esse paradigma impõe a morte do "eu" e uma vida de abnegação em prol do "outro". O Paradigma de Jesus, então, é seguir radicalmente seu exemplo, se entregando pelo outro, para a salvação do outro, assim como Cristo fez.
E o que o Salmo 88 tem a nos dizer sobre isso?
Primeiro, ele é um salmo messiânico, ou seja, trata da vida do Messias, colocando, de maneira profética, os sofrimentos e abandonos que Jesus passou aqui, com ênfase, dada pelos pastores, no clamor sem resposta que Ele eleva aos céus "Deus meu, por que me desamparaste"?

Você vai precisar chegar aos 27 minutos de programa para ouvir dos pastores que muitos não aceitam que, às vezes, as histórias dessa vida terminarão como termina o salmo 88, com um clamor irrespondido e sem final feliz.
Segundo os pastores, ao não aceitar que algumas histórias terminam assim, nós enfraquecemos o cristianismo, ao criar um cristianismo dependente de bênçãos.
Esse é o primeiro ponto que discutiremos aqui, antes, porém, vamos aos demais:

Admitindo que a vida é ruim e as coisas aqui são más, os pastores lançam o segundo ponto: o de que Deus não anestesia a realidade, quem faz isso é o Diabo. Explicam esse conceito ao dizer que os cristãos vão passar pelos sofrimentos deste mundo e analisam, no salmo 88, o fato de que Deus não agiu no caso do salmista. "A única coisa boa nesse capítulo é o verso 2, que diz que a oração chega a Deus. Mas a oração chegou a Deus e nada, o cara continua sofrendo".

Um terceiro ponto, colocado de forma cabal aos 33 minutos e 18 segundos do programa, é o de que "Toda vez que Deus interfere na realidade a nosso favor, Ele está dando um bônus, não é a realidade." Citam que a interferência de Deus em nosso favor é chamada de milagre, e que milagres são raros, citando o pequeno número de ressurreições (5 ou 6), ou ainda grandes milagres que são parcamente citados na Bíblia. Milagres são exceções, não são coisas corriqueiras (e mais ênfases na raridade dos milagres).

O quarto ponto gira em torno do conhecimento supremo de Deus, que o possibilita enxergar a realidade de modo completo, enquanto nós somos meras criaturas, pequenos e que não temos a visão de todas as relações, conexões e etc, que estão em jogo aqui em nossa vida. O sofrimento, então, tem um papel didático, pois nos ensina a viver nesse mundo e nos faz olhar para além desse mundo.

Pausa para a explicação dos 40 minutos: "Às vezes você vai pedir e Deus não vai te responder, e você vai se sentir como quem chora e a mãe não vê: Aprendeu?"

Quinto ponto: a vida humana não é nada em comparação com a eternidade, ou seja, os sofrimentos vividos aqui são nada em comparação com a glória porvir.

Sexto ponto: Os sofrimentos de Cristo foram muito maiores do que os nossos, motivo pelo qual nós "não podemos dizer a Deus que estamos sofrendo demais". Deus não ouviu a voz de seu próprio filho quando este implorou "passa de mim esse cálice".

Sétimo e último ponto: Assim como Cristo sofreu por nós, nós vamos e devemos sofrer pelos outros, pois viver pelos outros é sofrer.

Ainda há outras considerações, afinal trata-se de mais de uma hora de programa. uma ênfase ao final do programa é que Deus está ao nosso lado, outra é de que Deus nos chama para a pior realidade que existe, e que não há benefício próprio nesta terra em seguir o caminho da cruz. Enfim, sugiro que ouçam.
Na parte 2 vamos analisar os pontos levantados pelos pastores, para, a seguir, partirmos para as considerações do Isaque.

Nenhum comentário:

Postar um comentário