quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O que fica


O problema não é com o fim
Não! não são seus cabelos
balançando enquanto seus pés caminham
para longe

Tampouco o barulho do salto alto
ficando cada vez mais baixo
e distante

Não são seus olhos
que olham agora em outra direção
Nem a aliança que não está mais em sua mão
Não é a falta do seu corpo
em meu colchão

O problema não é o que vai, mas o que fica
Todo amor que eu ainda te daria
Os filhos que ainda não tivemos
Lugares que ainda não visitamos
Presentes ainda ausentes em nossas vidas

O problema é tua imagem refletida
Em cada canto dessa casa e não tão nítida
Em minha mente agora bem mais lúcida
E suicida

Que faço eu com o todos esses sonhos
Com os planos e com os castelos
O que faço eu com as sementes?
projetos de árvores frondosas?

Resta seguir a sinuosa estrada
Subir, de novo, a íngreme Subida
De Sísifo rolar acima a pedra
E lamentar a suave descida.

Castelos de Cartas


Uma das perguntas mais cruciais em nossa vida é: Qual a hora de abandonar um sonho, um projeto, uma vontade.. Quando parar de tentar?
Qual o momento em que se dá pra dizer que algo realmente não vai dar certo? Qual a fronteira entre a persistência e a louca obstinação?
Pense em sua profissão, seu sonho de criança... Você talvez quisesse ser médico, mas agora trabalha num emprego que te exige menos que o segundo grau. Desistiu?
E os amores? Quando perceber que a garota, ou o garoto dos sonhos não te ama e que você não conseguirá mudá-lo(a). Seu esposo ou esposa já não te ama como você gostaria que amasse, e tudo mostra que não vai melhorar...

Deixar pra lá pode ser uma ótima maneira de ser feliz, numa época em que se apregoa que o bom é viver segundo o momento, aquilo que se está sentindo AGORA deve ser o nosso leme, nos levando aonde o coração mandar, não é mesmo?

Em contrapartida, tudo o que fazemos gera em nós e no mundo a necessidade de repetirmos, esperamos de nós mesmos, e os outros esperam também, que sejamos constantes. Se você é bom, surgirão expectativas de que você, no mínimo, continue a ser bom. E não são só expectativas dos outros (sim, o inferno são os outros), são as NOSSAS expectativas, de que a gente DEVE fazer de novo algo que um dia você simplesmente QUIS.

Querer e dever, agora e além, insistir ou desistir, aceitar ou tentar mudar, dilemas da vida que nos encontram a todo momento, mas que, só às vezes, nos fazem parar pra pensar...

Será que estamos construindo castelos de cartas, tento empreitadas que mostram ser quase impossíveis até para os mais habilidosos?

Nesse momento, diante da frustração de descobrir um desamor de onde esperava amor, de colher traição de onde esperava amizade, de colher um ramo seco de onde esperava vigorosa planta, me atenho ao compromisso, à constância, correndo o risco de virar uma árvore imóvel para não ser como folhas ao vento.

Particularmente, ando meio cansado de pegar as cartas espalhadas pelo chão e tentar, como Sísifo, recomeçar a jornada...

No entanto, há os que preferem ser como os pássaros, plantam seus ninhos e neles habitam, mas ainda guardam forças para mudar se um vendaval ameaça sua casa.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Para os casados e os que querem se casar

O casamento é uma daquelas coisas que você faz, e depois de um tempo se pergunta: Por que é mesmo que eu fui fazer isso? Como aquele produto pra cozinha que você comprou porque viu um cara na televisão fatiando automaticamente legumes e tendo uma vida feliz, cercado de amigos comendo saladas, pizzas, churrasco e mesas de frios... Depois, no dia a dia, o eletrodoméstico já não é tão útil assim, sua vida não virou um mar de rosas por causa dele, você não está cercado de amigos, na correria não dá pra usar o produto como aparece na TV. É claro que ainda há ótimos momentos com seu "brinquedo", mas você percebe que ele te dá mais trabalho do que prazer, gera muita louça e você pensa duas vezes antes de usá-lo..... Respeitadas as devidas proporções, o casamento é entre pessoas, e pessoas são mais que eletrodomésticos, não são coisas que se pode simplesmente "usar". Posso dizer sem medo aos nubentes de todo o planeta: você irão se frustrar, com certeza! Os homens se casam esperando que suas esposas serão iguais às namoradas e noivas, se enganam, elas mudam tremendamente, como os homens também mudam após a conquista. As mulheres, por sua vez, na maioria das vezes se casam esperando que seus futuros maridos se transformem nos príncipes encantados quando eles se tornam mais sapos ainda... Estaria, pois o casamento fadado ao fracasso? Não acredito que isso seja uma inexorável verdade. Há casamentos que duram, porém se deve ter em mente que sofrimentos virão, não sofrimentos que te afligirão DURANTE o casamento, mas sofrimentos que virão EM DECORRÊNCIA do casamento e há que se suportar, respirar fundo e manter-se fiel à decisão. Muitas vezes a decisão de se continuar casado parece a mais estúpida, mas ainda assim, se se dá mais uma chance ao amor, entendido como uma decisão, um princípío, e não apenas um sentimento, então pode-se colher bons frutos. Depois que se aprende a viver casado, os pequenos prazeres que uma convivência forçada pelo SIM diante do altar se tornam coisas preciosas, ter uma mão para segurar, alguém para lhe trazer uma refeição, um outro corpo ao seu lado para dormir, sem falar na vida sexual, que em muitos casamentos, posso assegurar com propriedade, é maravilhosa. Se posso dar um conselho, e posso, pois esse é MEU BLOG, o casamento deve ser iniciado sem paixão, pois é assim que ele vai seguir durante um bom tempo, a maior parte dele. Claro que deve haver paixão entre o casal, mas a decisão, deve ser medida sem o peso da paixão, pois esse sentimento tende a pintar as coisas em cores mais vibrantes do que na realidade são. Nessa ótica, um casamento deve ser admitido como se admite um sócio, deve haver intimidade, mas ponderação entre os defeitos e qualidades que se procura nesse relacionamento. terminar com um sócio pode ser igualmente doloroso com prejuízos para ambas as partes. Mas ainda acredito no casamento e defendo-o como Paulo de Tarso o defendeu, é uma boa opção estar casado num mundo tão mau como o nosso. Como participante da cultura cristã, creio que o casamento deve ser eterno, é uma daquelas escolhas que se leva para a vida toda, independente de como ele pode ter começado. Dito isso, volto pra casa, sento no sofá, assisto ao telejornal, dou um suspiro profundo, como quem joga, numa lufada de ar, todo o descontentamento da vida, deito-me ao lado de minha esposa, e mesmo sem querer, durmirei de conchinnha esta noite.